O paredão do medo

A viagem começa animada, com um grupo de compristas saindo do estado de São Paulo em direção ao Paraguai. No trajeto, o ônibus, abarrotado de passageiros, acaba perdendo força em uma subida íngreme, na PR-444, ligação entre Arapongas e Mandaguari.

É no temido paredão de pedra, quando o coletivo perde força e demora a subir, que um assalto acontece. A ação ocorre durante a madrugada, poucas horas antes do nascer do sol, em um trecho sem iluminação alguma e distante da civilização.

Somente em 2019 foram cinco ocorrências do gênero, sendo quatro assaltos e uma tentativa, registrada em abril, que terminou na morte de um motorista de ônibus. O roubo mais recente, em meados de outubro, acabou com um comprista ferido por disparos de arma de fogo.

Os números podem ser maiores, admite o delegado Zoroastro Nery do Prado Filho, titular da 55ª Delegacia de Polícia Civil de Mandaguari. Ao Jornal Agora, Nery disse que a corporação atua em conjunto com o setor de inteligência da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) para localizar e desmantelar os grupos que cometem assaltos na rodovia.

A resposta à ação vem, mas quando um grupo é desmantelado, outro surge rapidamente. “Aquela quadrilha que matou o motorista em abril, alguns foram presos poucos dias depois, e outros envolvidos morreram em confronto com a polícia enquanto tentavam assaltar ônibus na Região Metropolitana de Curitiba”, conta o delegado.

Adaptação

Jornal Agora apurou que, por conta da insegurança na pista, algumas empresas que fretam ônibus para os compristas optaram por mudanças nos horários de seus trajetos, para que os coletivos passem pela rodovia durante o dia, em momentos de pico, como forma de evitar alguma aproximação criminosa.

Até mesmo motoristas de caminhão ouvidos pela reportagem relataram medo de passar pelo paredão de pedra, e tentam adaptar sua rotina para evitar emboscadas.

Posto policial

Uma possível saída para dar sensação de segurança na pista e afastar criminosos seria a instalação de um posto policial na ligação entre Arapongas e Mandaguari. A ideia tem ganhado força entre lideranças e comunidade local, já que o posto mais próximo da PRE, responsável por atender ocorrências no trecho, fica em Rolândia, há 50 quilômetros de Mandaguari.

Consultada pela reportagem, a corporação informou que ainda não há planos de instalar um posto na PR-444. Isso porque, oficialmente, a corporação tem poucos boletins de ações criminosas na pista nos últimos anos.

Até que o Jornal Agora solicitasse um relatório de situações de assalto na pista registradas pela PRE, a corporação praticamente desconhecia os números, já que muitas vezes os motoristas procuram por socorro no posto da Polícia Rodoviária Federal – na BR-376, próximo à praça de pedágio entre Mandaguari e Marialva – ou registram boletim com as polícias Civil e Militar de Mandaguari.

Leia a seguir a nota enviada pela Polícia Rodoviária Estadual:

A PR-444 recebe o policiamento preventivo e ostensivo pelo Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), e é atendida pelo Posto Rodoviário de Rolândia, o qual faz o trabalho com os recursos humanos e materiais disponíveis para garantir mais segurança aos usuários da rodovia. Neste ano, a unidade recebeu quatro acionamentos para atender ocorrências de roubo a ônibus na PR-444.

A presença dos policiais militares rodoviários é constante na região e o policiamento é feito com base na estatística criminal, feita a partir da análise de Boletins de Ocorrência. Os usuários da rodovia devem denunciar quando presenciarem crimes ou perceberem ações suspeitas pelo telefone 198 do Batalhão de Polícia Rodoviária, ou pelo 190.

*Reportagem publicada na 327ª edição do Jornal Agora