Numeração confusa de residências em Mandaguari causa problemas em entregas de correspodências e encomendas
Prestes a completar 85 anos, Mandaguari tem uma numeração historicamente confusa, e toda essa situação, que vai de números que não seguem uma ordem lógica a duplicação numérica, entre outros problemas, está muito longe de ter uma solução.
A redação do Jornal Agora recebeu uma reclamação de um morador do Jardim América, que procurava uma solução para um outro problema, a falta de atendimento da agência do Correios de Mandaguari em seu bairro. Conforme relatado por ele, o bairro já tem mais de 10 anos, porém até hoje os moradores têm que se deslocar até a agência para retirar suas correspondências.
O morador apresentou um oficio que foi encaminhado à Câmara de Vereadores de Mandaguari com a data de 17 de novembro de 2016, no qual o gerente na época do CTCE de Londrina afirmava que o serviço começaria no primeiro semestre de 2017, o que não ocorreu.
Procurada pela reportagem, a direção da agência local dos Correios informou que alguns fatores contribuíram para que o serviço não chegasse não só ao Jardim América, mas a pelo menos 10 bairros, entre eles falta de identificação de ruas e problemas na numeração.
Segundo a direção da agência a questão quanto às entregas desses bairros está praticamente resolvido, auditores dos Correios estiveram em Mandaguari para fazer um levantamento quanto ao volume de correspondências que a cidade recebe a porcentagem que são para os bairros ainda não atendidos pela empresa, e que só aguarda pelo acerto de alguns detalhes e da liberação que vem diretamente de Brasília, e que no primeiro trimestre de 2022 o serviço nessas localidades estará regularizado.
Confusão histórica
Não é difícil encontrar pessoas com dificuldades de encontrar endereços, principalmente na parte mais antiga de Mandaguari e na área central. Alguns locatários na Avenida Amazonas, principal via da cidade, relataram que ao tentar fazer transferências de contas na Copel e Sanepar, descobrem que os números nas duas empresas não são os que estão colocados nas fachadas dos imóveis.
Claro que isso gera muito transtornos, como religação da energia elétrica que pode demorar mais de 30 dias. Em alguns casos a solução foi oficializar a numeração que já está no local, muito porque essa numeração já está ali há anos ou mesmo décadas.
Para entender toda essa problemática entramos em contato com a assessoria de imprensa dos Correios do Paraná e também conversamos coma a arquiteta e urbanista Patrícia Salvador Candido, responsável pelo Plano Diretor de Mandaguari.
Segundo Patrícia, em Mandaguari, até onde se tem conhecimento não foi estabelecido um marco zero para a numeração predial. “Até observando como era feito antes, as pessoas viam até a prefeitura e pedia o número, aí com qual critério era utilizado, nós não sabemos ao certo”.
Em relação a numeração predial, Patrícia demonstrou em um mapa, que hoje, todos os imóveis têm seu devido número, porém, o problema é que boa parte da cidade está consolidada e essa não se consegue mudar.
A arquiteta diz que foi estabelecido junto com os Correios um padrão para numeração de novos bairros, e que isso vem sendo feito seguindo o manual da estatal.
Segundo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a numeração predial irregular em Mandaguari gera retrabalho, ocasionando atrasos nas entregas, já que as correspondências precisam ser submetidas a pesquisa.
Ainda segundo a nota que foi enviada à redação pela assessoria de imprensa dos Correios, uma portaria ministerial estabelece que a empresa deve realizar as entregas em domicílio, desde que os imóveis apresentem numeração única, de forma ordenada e individualizada. Vale lembrar que a identificação dos logradouros e a disposição da numeração nos imóveis é de responsabilidade do poder público municipal.
Ainda conforme os Correios, a Rua Luiz Trintinalha, uma das vias mais extensas da cidade, é também e uma das mais problemáticas em relação a numeração. A primeira casa tem o número 20, o terceiro é 569 e o quarto volta ao 34. A confusão continua na segunda quadra onde o número 266 está ao lado do 195, e na terceira quadra o 2476 está em frente ao número 19.
A Rua Luiz Trintinalha tem seu início na divisa entre a Vila Vitória e o Jardim Brasília, passando pelo Esplanada e terminando no antigo IBC, retornando na região dos Cinco Conjuntos, terminando no início da Estrada Keller. Questionada sobre o porquê de isso acontecer, Patrícia relatou foi uma decisão tomada no processo de formação de Mandaguari. “Quando a Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná fez a planta inicial da cidade, a Rua Marialva, hoje Luiz Trintinalha, ela era uma diretriz viária que iria cortar a cidade de fora a fora, o que acontece que veio a instalação do IBC, veio também a Cocari, isso rompeu esse planejamento, mesmo assim por fazer parte do projeto inicial da cidade o nome foi mantido em toda a sua extensão”.
Ainda segundo a direção dos Correios, a Rua Luiz Trintinalha é apenas um dos vários problemas de ruas que cortam mais de um bairro, e que alguns casos a numeração ficam duplicada quando ela passa de um bairro para o outro.
“E hoje isso é um problema na cidade que nós temos enfrentado, quando começamos a fazer o Plano Diretor e o Plano de Mobilidade Urbana, foi feito um diagnóstico da cidade, muitas ruas perderam a diretriz inicial, isso acarreta no problema da numeração e na nomenclatura dessas ruas”, enfatiza Patrícia.
O que pode ser feito
Tanto os Correio quanto a arquiteta e urbanista Patrícia Salvador Candido usaram como o exemplo o trabalho que está sendo feito na cidade de Apucarana, onde já há alguns anos vem sendo feito um mapeamento da cidade, que foi dividido em zonas e aos poucos a numeração de toda a cidade está sendo trocada.
“Nós sabemos que a numeração cidade não está da forma mais correta e precisamos fazer um estudo para mudar essa numeração predial, a Secretaria de Urbanismo, Obras e Serviços Públicos já tem essa consciência, só que precisamos de uma parceria que envolve, Correios, Sanepar, Copel e Ministérios Público, porque o dia que tivermos que mudar toda essa numeração, precisamos ter um plano de trabalho que envolva os empresários, o que é o mais difícil, também se juntem. Trocar a numeração de uma empresa que já está no mesmo local a muito tempo impacta em mudanças no contrato social, além das correspondências ou impressos que a empresa já possui como cartões de visita por exemplo”, enfatiza Patrícia.
A longo prazo, Patrícia acredita que essa correção na numeração predial vai ter que ser feita, segundo ela a secretária está buscando orçamentos, para isso ser feito, conforme relatado pela arquiteta somente a equipe formada por funcionários públicos não daria conta. “Precisamos mapear e atualizar nossa base de dados cadastral e ter um georreferenciamento e isso é um trabalho mais complexo. E todo esse trabalho de correção numérica seria feita juntamente com a nomenclatura dos bairros, que hoje alguns têm nomes muito parecidos e também para definir um perímetro correto para definir onde começa um bairro e onde ele termina”, finaliza.
Reportagem publicada na 372ª edição do Jornal Agora