Conectando raízes
Professor e engenheiro agrônomo desenvolve ação plantando árvores em locais públicos
No mundo em que as relações entre homem e natureza enfrentam desafios diários, iniciativas têm emergido como símbolos de resistência e esperança. Em Mandaguari, duas figuras se destacam por sua dedicação em plantar árvores e transformar paisagens, a iniciativa uniu o engenheiro agrônomo João Flávio Borba e o professor Donizeti Donha. Unidos pelo amor à terra e às histórias que ela guarda, os dois desenvolvem uma ação que vai além do simples ato de semear.
João Flávio e Donizeti começaram por volta de 2016, a trocar mensagens sobre geografia e história regional. “A gente começou a conversar sobre locais históricos, paisagens naturais e culturas de comunidades específicas”, relata João. “Com o tempo, passamos a realizar expedições e explorar locais de importância ambiental e histórica”. Essa busca por conexões com a terra evoluiu para ações concretas, como o plantio de árvores.
Para os dois, cada muda representa mais do que apenas um futuro pedaço de sombra ou um fruto saboroso. “Cada árvore tem uma história”, explica Donizeti. “A escolha do local e da espécie envolve um significado profundo, que nos conecta ao passado, às nossas raízes e também ao futuro”.
Um exemplo disso é a homenagem pessoal de João ao plantar um ipê branco em memória de sua avó. “Enquanto aquela árvore persistir, será um elo vivo com minha avó. É algo que transcende o ato físico de plantar”, emociona-se.
Com uma carreira sólida em agronomia e especialização em agroecologia, João traz um olhar técnico para o projeto. Ele explica que a agroecologia busca criar sistemas sustentáveis que integrem natureza e ser humano. “Um dos pilares da agroecologia é o aumento da biodiversidade, e as árvores desempenham um papel essencial nesse processo”, destaca.
João participa de projetos maiores, como o reflorestamento de áreas desmatadas no Paraná. “Estamos replantando 150 hectares de sistemas agroflorestais no estado e recompondo uma reserva de 80 hectares em um assentamento em Planaltina. É uma resposta à necessidade urgente de compensação florestal em um estado que perdeu boa parte de sua Mata Atlântica nas últimas décadas”.
Se os projetos de larga escala são grandiosos, as ações individuais e comunitárias carregam uma magia própria. Donizeti descreve essas atividades como “um encontro consigo mesmo e com a natureza”. Segundo ele, abraçar uma árvore ou plantar uma muda pode ser uma terapia emocional. “É um momento de descarrego e reencontro”, afirma.
A escolha de locais para plantio também é um exercício de responsabilidade e sensibilidade. “Nós sempre buscamos áreas públicas ou espaços subutilizados, como margens de estradas rurais”, explica João. “Ainda assim, pedimos uma licença mental aos proprietários das terras vizinhas, pensando no bem comum”.
Entre as árvores plantadas pela dupla estão espécies nativas, como ipês, pitangas, jabuticabas, e exóticas, como mangueiras. “As mangas, por exemplo, são plantas de origem asiáticas, mas têm um impacto muito bonito aqui no Paraná. Em muitas rodovias, vemos pessoas parando para pegar os frutos ou animais se alimentando deles”, comenta João.
O cuidado com as mudas começa antes mesmo do plantio. “Conseguimos mudas em viveiros municipais, regionais ou com produtores particulares. Sempre direcionamos cada muda para um local específico, respeitando seu potencial e as condições do terreno”, explica João. Ele também faz questão de agradecimento aos trabalhadores dos viveiros que preparam as plantas para a transferência ao solo definitivo.
Tanto João quanto Donizeti encaram o plantio de árvores como um ato que, embora simples, pode ser revolucionário. “Plantar árvores e produzir alimentos saudáveis são formas de resistir a modelos de produção tributária. É uma busca pela autonomia e pela qualidade de vida”, afirma João.
Donizeti complementa com uma reflexão: “Vivemos em um mundo onde somos cobrados para sermos os melhores em tudo. Mas precisamos reservar momentos para fazer algo por prazer, sem competição. O planejamento é uma terapia, um espaço de liberdade”.
Inspirando novas gerações
Nas redes sociais, o grupo compartilha suas experiências de plantio e visitas a locais históricos, como o Pico da Pedra Branca, aldeias indígenas e a comunidade de Tereza Cristina, um antigo projeto de socialismo anárquico no Paraná. “Queremos mostrar que essas ações são acessíveis e podem ser reproduzidas por qualquer pessoa. É uma cultura que pode ser divulgada”, diz João.
A simbologia do projeto é clara, cada árvore plantada é um gesto de esperança, um marco que conecta histórias pessoais e coletivas. “Talvez as árvores nos escolhem tanto quanto as escolhemos”, filosofa Donizeti.
E assim, entre mudas, histórias e uma visão de futuro mais verde, João e Donizeti deixam sua marca. Não apenas na terra, mas no coração de quem os acompanha. Afinal, como eles provam em cada ação, pequenos gestos podem criar raízes profundas e transformar o mundo.
Um encontro com a história viva
Durante uma de suas jornadas pela conexão entre história e natureza, João Flávio Borba e Donizeti Donha visitaram uma mata localizada no fundo da propriedade da família Manholer, em Mandaguari, no local o objetivo era visitar uma imponente peroba centenária.
A árvore, com seu tronco majestoso e copa imensa, é uma testemunha silenciosa do passado, um símbolo da riqueza natural que já domina a paisagem do Paraná. Para João, a experiência foi emocionante: “Estar diante de uma árvore como essa é como voltar no tempo. Você sente o peso da história em cada detalhe do tronco e percebe a importância de preservar o que ainda temos”.
Donizeti destacou a importância de momentos como esse para a conscientização ambiental. “Ver uma árvore como essa em pé, saudável e majestosa, reforça o papel que cada um de nós tem em garantir que outros cheguem a essa idade”.
“A peroba que visitamos, é um patrimônio vivo, e queremos que mais pessoas entendam o valor de preservar esses gigantes que ainda resistem ao tempo”, concluiu João.
Matéria publicada na edição 427 do Jornal Agora