Apaixonado pela comunicação
Alex Bertolin, jornalista há mais de 20 anos, é natural de Cuba, país pertencente à América Latina que vive em um regime político semelhante à ditadura militar e enfrenta em todos os âmbitos da sociedade dificuldades como fome, pobreza e censura à liberdade de expressão.
Alex iniciou sua jornada no jornalismo motivado por um tio, que era jornalista esportivo, comentarista, narrador e sempre o carregava consigo para os jogos e competições. Aos 12 anos o menino se encantou pela profissão e posteriormente iniciou seus trabalhos em uma grande rádio de sua província trabalhando em um programa de esportes. Após três anos de atuação nesta rádio, ele decidiu profissionalizar-se e cursou uma graduação de jornalismo e realizou especializações acerca da profissão.
Nestes 20 anos de trabalho como jornalista, o cubano cresceu progressivamente como profissional, em entrevista à equipe do Jornal Agora contou sobre uma de suas experiências mais marcantes. “Um dos momentos mais marcantes da minha carreira foi quando a gerência do Jornal que eu trabalhava disse pra mim que eu seria âncora deste grande jornal. Ele era transmitido para mais de 400 mil pessoas, que nos ouviam através de 12 emissoras. Então para mim isso foi a realização de um sonho, trabalhei por 5 anos lá, foi minha segunda oportunidade profissional em Cuba muito importante, pois este jornal estava sempre falando dos problemas do governo, da população e eu estava saindo um pouco dos esportes. Para mim foram coisas muito marcantes, pois em torno disto foi uma vida como jornalista”, conta ele.
Bertolin, chegou ao Brasil em 2017 para morar perto de sua esposa, médica que veio para o país em 2016 através do programa Mais Médicos. Após morar em Goiânia por alguns anos, Alex e a esposa mudaram-se para Mandaguari no segundo semestre de 2020 motivados pelo trabalho da médica. “Nós gostamos muito de Mandaguari, perto de Goiânia a cidade é muito tranquila e as pessoas são muito solidárias”.
Quando chegou ao BR, com sede de fazer jornalismo, Bertolin foi recomendado por um amigo da República Dominicana que trabalhava na ESPN dos Estados Unidos para escrever sobre o período de eleições em que o Brasil se encontrava em 2018, acompanhando e noticiando o cenário político brasileiro. “E após as eleições, eu continuei trabalhando com a ESPN, só que em trabalhos exclusivos de trabalhos exclusivos. E depois eles precisaram de mim para cobrir a Liga Cubana de Beisebol, que é o esporte nacional do meu país, então eu acompanhava o andamento dos jogos, o progresso dos times, os jogadores e todos os âmbitos relacionados à Liga”.
“Mesmo que aqui no Brasil eu não esteja fazendo jornalismo o tempo todo, como lá em Cuba, eu geralmente tenho propostas de jornalismo para os Estados Unidos, que por sua vez abrangem vários outros países como Canadá, República Dominicana, Caribe e até alguns países da Europa. E isso é uma oportunidade muito interessante para que eu continue fazendo o que eu gosto e não me desvincular muito desse universo”, contou Alex.
Vindo de um país desprovido de liberdade de expressão, poder falar sobre temas como economia, política e causas da sociedade, foi realmente um grande marco para Alex Bertolin. Em seu antigo país, o jornalista já foi alvo da censura mesmo trabalhando como jornalista esportivo. “Em Cuba é muito difícil fazer jornalismo, por isso eu escolhi trabalhar como jornalista esportivo, pois eu tenho um pouco mais de liberdade. Ainda assim, o esportivo também tem sua censura, já tive muitas reportagens censuradas. Sete anos atrás, o beisebol, esporte oficial de Cuba, não era profissional ainda e eu fiz uma reportagem onde eu dizia que era muito importante ter esse esporte em Cuba, para que pudéssemos explorar e autofinanciar esse esporte, e eu lembro que estava almoçando quando a diretora do jornal me chamou para uma conversa. E ela me disse que haviam ligado e questionado sobre a matéria, então eu assumi a responsabilidade das minhas palavras e ela foi orientada a me desligar da empresa por dizer que o esporte deveria ser profissionalizado. Após conversarmos ela compreendeu meu ponto de vista e decidiu não me desligar da empresa e resumindo, seis meses depois saiu no principal jornal de Cuba que a federação nacional de beisebol do país se abria ao profissionalismo”.
Sofrer riscos, ir além do que é mostrado são umas das essências de um jornalista que Alex sinaliza como essenciais. “É necessário assumir esse risco de transgredir essa fronteira do que pode ou não. O principal de um jornalista é fazer com que o povo se sinta representado, no que você escreve e no que você fala, e o jornalismo no Brasil não se difere muito daquele feito no resto do mundo, mas aqui tem se essa liberdade de se falar tudo o que quer, goste o governo, ou não. O jornalismo é difícil, você passa 5 ou 6 anos se dedicando para ter um retorno anos depois apenas se você se destacar. E para se destacar tem que ser criativo e verdadeiro, com o intuito de fazer a diferença na vida das pessoas”, ressalta ele.
Para Alex, jornalismo em sua essência coexiste com a democracia e a liberdade de expressão, caso contrário o profissional passa a ser um comunicador institucional. “Eu acredito que não existe um país no mundo que o jornalismo seja uma profissão inteiramente livre, isso é difícil. Quando falamos de liberdade de expressão, existe, porém, ela não existe em uma realidade pura. Todo jornal tem que seguir uma linha editorial e nós podemos falar deste ponto até aquele ponto, mas tem coisas que não podemos falar. Lá em Cuba é diferente, nós vivemos em uma ditadura, e todos os todos os jornais do país respondem a uma linha editorial do governo de Cuba, então nós falamos sobre o que o governo quer que você fale. O jornalismo dentro da democracia é falar tudo o que quiser falar, só que é um direito de falar, mas falar com respeito, com argumentos e com fatos. E o jornalismo feito no Brasil é feito com democracia e com respeito, diferente do que é feito no meu país”, conta Alex Bertolin.
Reportagem publicada na 374ª edição do Jornal Agora