A cafeicultura está na UTI novamente
Uma massa de ar frio que chegou ao Paraná no meio da última semana, fez com que as temperaturas caíssem em todas as regiões do estado. Temperaturas negativas foram registradas em várias cidades, inclusive em Mandaguari, que viu a manhã de 6 de julho ser a mais fria dos últimos seis anos.
Algumas propriedades na zona rural do município registraram -2°C, fazendo que folha na plantação de café congelasse e os produtores de café sofressem grande prejuízo. “O produtor estava tentando sair da UTI depois de 2013 e vem outra geada e carrega para UTI novamente”, afirmou Fernando Lopes tradicional produtor local.
Lopes recebeu a equipe do Jornal Agora em sua propriedade, poucos dias depois da onda de frio intenso que chegou ao sul do Brasil, para fazer um balanço preliminar das perdas dos produtores de café do município.
“Temos que avaliar com cuidado”, diz. Para a reportagem, o agricultor contou que a partir das previsões que tinha de chuva seguida de uma massa de ar polar tomou todas as medidas possíveis para minimizar os danos nas lavouras nas propriedades de sua família, “Nas mudas até seis meses de idade fizemos o cobrimento total da planta, e nas de seis meses até dois anos foi feito o chegamento de terra no tronco para proteção”.
Fernando Lopes destaca que algumas regiões de baixada a geada foi mais forte, e dentro de suas propriedades ele chegou a registar, com um termômetro de precisão, temperaturas abaixo de zero. Há relatos de agricultores que tiveram boa parte da sua lavoura prejudicada pelo frio.
Para Lopes, a cafeicultura vai passar por outro momento delicado, mas os tradicionais produtores não vão abandonar a cultura por conta da profissionalização que o setor vive e pelo investimento feito.
Outro ponto destacado por Fernando Lopes foi a precisão dos institutos climatológicos, que previam uma geada de fraca a moderada com um acerto de praticamente 100%.
Diogo Boromelo, que é também de família tradicional na produção de café, que tem propriedade entre os municípios de Mandaguari e Marialva estima que entre 60 e 70% da próxima safra esteja comprometida depois dessa primeira onde de frio que atingiu a região. “Esse ano foi de produção baixa, a expectativa estava na colheita do próximo ano, agora vamos ter esse prejuízo”, afirma.
O secretário de Agricultura e Abastecimento de Mandaguari, Luís Felipe Martvi, contou ao Jornal Agora que os números dos prejuízos causados pela primeira onda de frio ainda estão sendo fechados, e a partir da próxima semana será possível ter noção da verdadeira extensão das perdas.
O levantamento é feito em conjunto com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Martvi adianta que os prejuízos a lavouras de todo o Estado foram grandes. “ A situação é grave. O dinheiro na agricultura ele é de uma forma cíclica, e é usado na cidade, você movimenta comércio então isso não é bom para nós, é um impacto considerável na economia local” avalia Luiz Felipe.
Ainda segundo o secretário além da cafeicultura, outros tipos de lavouras foram afetados pelo frio. Há prejuízos em produções de trigo e banana, por exemplo, bem como houve perdas de agricultores que estavam com a safra do milho atrasada. “Tem produtor que perdeu 100% das hortaliças”, ressalta.
Martvi também destaca o avanço tecnológico nas previsões climáticas e que os agricultores devem ficar atentos aos alertas de geadas que são comuns nos meses de inverno. “Antigamente tínhamos apenas a umidade do ar e a pressão atmosférica para fazer as previsões, hoje contamos com satélites que fazem leituras em tempo real, que facilita para todos e não só para o agricultor”.
Feira do produtor
A reportagem também visitou a feira do produtor que acontece na Praça Tiradentes às terças-feiras. Passamos por várias bancas de produtores de hortaliças.
Alguns feirantes confirmaram que estavam preparados para o frio e mesmo assim tiveram perdas significativas. Para os produtores, em breve o consumidor deve começar a sentir no bolso esse prejuízo, pois deve haver alta no preço de alguns produtos.
João Batista Conte, produtor que mora na estrada Cambota afirmou que os prejuízos foram grandes na sua propriedade tanto na produção de hortaliças quanto na lavoura de milho, “Vamos precisar de pelo menos 15 dias para nos recuperar”, finaliza Conte.
*Reportagem publicada na 310ª edição do Jornal Agora