No final, todos querem sentar na janela

Vasculhando as redes sociais nos últimos dias, deparei-me com a polêmica envolvendo uma mãe que pediu a uma mulher para ceder seu lugar no avião ao filho, pois ele queria sentar junto à janela. Isso, como era de se esperar, abriu espaço para discussões: quem estaria certo nessa situação? O que fazer em um momento como esse? E, mais profundamente, será que a atitude da mãe refletia uma educação adequada para seu filho?

Essa situação me intrigou e levou a uma conclusão: no final, todos querem sentar na janela.

Há algo intrínseco ao ser humano que busca o melhor ângulo, a visão privilegiada, o espaço mais confortável. A expressão “sentar na janela” vai além da escolha de um assento em um ônibus ou avião; ela simboliza a aspiração de estar em um lugar de destaque, onde se possa observar e experimentar o melhor que a vida tem a oferecer. No avião, no ônibus ou na sala de aula, a janela é mais do que um espaço físico. É a perspectiva que nos permite olhar além, sonhar e conectar-nos com o que está do outro lado. No cotidiano, todos queremos esse lugar especial, onde as possibilidades parecem mais claras e o horizonte mais acessível.

O problema surge quando a busca pela janela se transforma em uma competição sem controle. Na busca pela “vista perfeita” ou pelo “conforto”, a ambição de alcançar objetivos pode levar a atitudes indesejáveis. Porém, poucos se perguntam: o que a pessoa que está sentada à janela enfrentou para chegar até lá? Poucos estariam dispostos a deixar seu lugar, pois posições são formadas por histórias, vivências e desafios.

O segredo pode estar em entender que a verdadeira “janela” não é um lugar fixo, mas a maneira como enxergamos nossas vidas. Sentar na janela não precisa ser uma metáfora de exclusividade; pode ser uma escolha de compartilhar. Quando valorizamos as experiências conjuntas e celebramos o sucesso alheio, criamos um ambiente onde todos se sentem inspirados a alcançar novos horizontes.

A verdade é que “sentar na janela” carrega consigo o melhor que cada um pode dar para chegar a essa posição. Contudo, essa posição só é mantida por quem sabe ter empatia, respeito e entende que lugares são ocupados temporariamente. Quem aprende a extrair desses momentos os melhores ensinamentos e conquistas viverá para sempre sentado na janela.

Que neste clima natalino possamos refletir que a verdadeira beleza está em perceber que a vista mais inspiradora não está apenas na janela, mas nas histórias, conexões e lições aprendidas ao longo do percurso. Que possamos analisar 2024, reconhecer nossos erros e acertos, nossos avanços e retrocessos, e nos preparar para chegar ainda mais perto de sentar na janela em 2025.

Dercílio Santana Júnior