Desinformação e caos marcam discussão sobre segurança nas escolas
A onda recente de ataques violentos a escolas pelo país intensificou a discussão sobre segurança nos estabelecimentos de ensino. Episódios recentes como ataques em uma creche de Blumenau (SC) e em uma escola de São Paulo (SP) acenderam o alerta de pais e responsáveis sobre o risco de alguém mal intencionado invadir uma escola e promover um massacre. Como se a discussão não fosse séria o suficiente, começaram a pipocar em redes sociais perfis divulgando ameaças de ataques, supostas ações coordenadas e diversos outros tipos de fake news. Os nervos estão à flor da pele.
Em Mandaguari, a Polícia Civil investiga a criação de um perfil com supostas ameaças. A histeria causada pelas redes sociais ao redor disso foi tão grande, que um aluno apontado por sabe-se lá quem como suposto autor foi agredido na saída da escola, e a ação foi filmada e compartilhada em grupos de WhatsApp, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ainda segundo a polícia, o aluno agredido não tinha relação alguma com o perfil em questão.
Pais
Moradora do Jardim Sumaré, Josiane Castro é uma das mães que organizou um grupo de pais e responsáveis para discutir sobre a segurança nas escolas de Mandaguari. O coletivo reivindica uma série de mudanças, como a instalação de concertinas (espécies de serpentinas com arame) em muros das instituições de ensino, bem como a contratação de vigias armados e o fim da distribuição do Leite das Crianças em creches e escolas.
“Com a distribuição do leite, entra e sai gente da escola o tempo todo. É perigoso”, afirma. Josiane alega que a prefeitura estuda mudar a entrega para os colégios da rede estadual, já que o programa que atende famílias com crianças de seis meses a três anos de idade é iniciativa do Governo do Paraná, mas o grupo está insatisfeito com a sugestão.
A prefeitura também anunciou que todas as escolas da rede municipal de ensino agora contam com vigia, mas os pais que compõem o coletivo insistem na contratação de seguranças armados, alegando que muitos desses funcionários destinados pelo município fazem mais o papel de zeladoria. “Os vigias não resolvem muita coisa. Tem escola como a Walter Antunes, onde o vigia dali fica sobrecarregado, porque ele tem que ficar chamando criança e não consegue observar quem entra e quem sai. Então o ideal seria um guarda armado”, conclui Josiane.
Prefeitura
Em entrevista ao Jornal Agora, a prefeita Ivoneia Furtado e a secretária de educação de Mandaguari, Selma Bertolini, confirmaram que todas as escolas e creches da rede municipal agora contam com vigias instruídos sobre procedimentos de segurança.
“Essa nossa medida garante condições adequadas, de acordo com o atual momento da Educação no País. Garante um ambiente de extrema confiança e que gera bem-estar, ideal para a formação dos alunos. Os pais podem ficar tranquilos”, afirma Ivoneia.
Ainda nesta semana, a chefe do Executivo se reuniu com o comandante do Pelotão da Polícia Militar (PM-PR) de Mandaguari, o capitão João Correia, e solicitou “uma atenção redobrada” para o patrulhamento e monitoramento feito nas unidades de ensino.
“Contamos hoje com 120 câmeras de segurança, instaladas em pontos estratégicos da cidade. Essas câmeras inibem crimes e auxiliam nas investigações policiais”, comenta a prefeita.
Ivoneia pontua ainda que o medido segue estudando novas medidas que podem proporcionar mais segurança à comunidade escolar como um todo, compreendendo alunos, pais e profissionais da educação.
Núcleo de Educação
Ao Jornal Agora, a chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Maringá, professora Isabel Cristina Domingues Soares Lopes, afirmou que é importante não transformar casos isolados em algo maior. Ela ressaltou que brigas e violência sempre ocorreram nas escolas, mas que é possível tomar medidas de segurança, como fechar os portões das escolas e não deixar qualquer pessoa entrar. A chefe do Núcleo também afirmou que os pais devem confiar no trabalho dos professores e funcionários e acreditar que eles vão cuidar dos alunos.
Isabel Cristina tranquilizou os pais e alunos, afirmando que não há histórico de violência em escolas na região e que a instituição escola é um local seguro para as crianças. Ela criticou a disseminação de fake news que geram medo e discórdia entre a população, destacando que o lugar de criança é na escola, onde elas estão mais protegidas do que sozinhas em casa.
“Acreditamos na instituição escola, sempre tivemos cuidado com isso e os pais também devem ter esse cuidado, os adultos devem também checar o que as crianças estão levando para a escola e o que elas estão fazendo de errado lá. Devemos tomar cuidado sim, mas isso é para qualquer situação da vida e esses riscos são eventuais, não podemos ficar com medo e pânico porque isso passa para as nossas crianças. Nós não falamos nada sobre isso porque não tem nada para falar, não aconteceu nada, não vamos transformar as escolas em mini presídios”, pontua.
E agora?
Por incrível que pareça, segurança dentro das escolas é uma questão que só veio à tona recentemente. Um estudo divulgado pela Universidade Estadual de Campinas aponta que o Brasil registrou 23 ataques a instituições de ensino entre 2002 e março de 2023, se aproximando da média de um ataque por ano.
Com o aumento recente nas ocorrências do gênero, o governo federal anunciou a criação de um grupo para estudar e estabelecer políticas em resposta a isso, e a grande mídia também mudou a postura na cobertura de casos semelhantes, tendo o cuidado de não expor detalhes dos envolvidos para não estimular outros ataques. Também entra na discussão o papel das redes sociais, empresas que em sua maioria não punem pessoas que criam perfis estimulando massacres e discurso violento.
Enquanto houve avanços e medidas de segurança adotadas em um primeiro momento, o debate ainda está longe de acabar.
*Reportagem publicada na 399ª edição