Caso Magó: Cinco anos de um crime que chocou Mandaguari
Dia 25 de janeiro fazem cinco anos de um dos crimes que mais chocaram a cidade de Mandaguari, quando a bailarina Maria Glória Poltronieri Borges, de 25 anos, foi brutalmente assassinada em uma cachoeira na zona rural do município. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte em uma trilha próxima à Cachoeira do Massambani, na zona rural de Mandaguari.
Magó, como era conhecida, foi vítima de violência sexual e estrangulamento, em um crime que ganhou repercussão internacional, e deu início a uma longa busca por justiça. Em 2025, o caso completa cinco anos, mantendo viva a memória de Magó e a luta por um desfecho definitivo.
Quem era Maria Glória
Filha dos maringaenses Daísa Poltronieri e Maurício Borges. Magó atuava profissionalmente na dança desde 2008 onde ingressou na Cia Pavilhão D (São Paulo-SP) para aprofundar o meio das linguagens corporais em técnicas como o Ballet Clássico, e a Dança Contemporânea, com diversos Maestros da dança.
Ministrava aulas de Ballet Clássico Avançado, Contemporâneo e Contato-Improvisação na Academia Daisa Poltronieri. Graduanda em Artes Visuais na Universidade estadual de Maringá (UEM) e Capoeirista na ACCAME (Associação Cultural de Capoeira Mandinga-Ê).
Ainda em 2020, em uma entrevista para a Agora Comunicação, Maurício Borges, contou sobre as mudanças na rotina da família após o brutal assassinato da jovem. “A gente está muito devastado com tudo o que aconteceu, e esperando que a Justiça seja feita. Pra nós tem sido cada dia uma batalha nova, pra poder suportar essa dor”, detalhou.
Os últimos momentos de Magó
Familiares e amigos descreviam Magó como uma jovem apaixonada pela dança e pela natureza. No dia 25 de janeiro de 2020, ela decidiu passar um dia próximo à Cachoeira do Massambani, um local que costumava frequentar.
Maria Glória chegou a uma chácara, que fica a poucos metros da cachoeira, na tarde de sábado (25/1), acompanhada pela mãe, Daísa, e pela irmã, Ana. A chácara é uma propriedade particular destinada a acampamentos e retiros espirituais e muito frequentada por pessoas da região e de outras cidades.
Conforme declaração da proprietária da chácara, Magó ficaria acampada no pátio, próximo à casa da família, porque naquele dia estava acontecendo um treinamento de brigadistas no local, mais por voltadas 16h30 ela deixou a propriedade dizendo que iria acampar as margens da cachoeira.
Naquele mesmo dia assim que não notaram mais a presença da bailarina a equipe que fazia treinamento iniciou uma busca, mais não localizaram Maria Glória. No domingo, seu corpo foi localizado em uma trilha, com evidencias de violência sexual e estrangulamento como causa da morte. “Acreditamos que ela foi morta em um local distante e depois foi deixada na trilha”, comentou Maurício Borges, pai da vítima na época do crime.
A investigação e prisão do suspeito
A investigação foi comandada pelo delegado da 55ª Delegacia da Polícia Civil de Mandaguari, Zoroastro Nery do Prado Filho, que ouviu mais de 50 pessoas, entre as que estiveram no local no dia do crime, familiares e suspeitos.
Uma força tarefa foi montada no intuito de identificar o mais rápido possível os autores do assassinato.
A Polícia Civil fez diligencia na cidade de Apucarana e Marialva. Em Apucarana foi ouvido pessoas que estiveram na chácara e foi cumprindo um mandado de busca e apreensão na cidade. Após receber uma denúncia anônima que informava que um grupo de pessoas de Marialva esteve no local no mesmo dia do assassinato, os policiais foram averiguar as informações e tentar identificar quem seriam essas pessoas para intimá-las e serem ouvidas.
No dia 19 de fevereiro a Polícia Civil esteve no local do assassinato, junto com os policiais estava um dos três suspeitos que tiveram o seu material genético coletado e enviado ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba.
No dia 28 de fevereiro de 2020, pouco mais de um mês após o crime, Flávio Campana, de 40 anos, foi preso em Apucarana. Ele já possuía antecedentes criminais por estupro e agressão, o que levantou suspeitas iniciais.
O exame de DNA confirmou sua ligação direta com o assassinato, identificando seu material genético no corpo e nas roupas de Magó. Durante os interrogatórios, Campana apresentou versões contraditórias: inicialmente negou envolvimento, mas posteriormente afirmou que a relação com Magó havia sido consensual, uma alegação rapidamente desmentida pelas evidências.
Desdobramentos judiciais e recursos
O inquérito policial foi concluído em março de 2020, com Campana sendo indiciado por homicídio qualificado, estupro e ocultação de cadáver. As qualificadoras incluíram motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. No entanto, o processo judicial enfrentou diversos atrasos, incluindo recursos da defesa do acusado.
Um ponto crítico ocorreu em setembro de 2020, quando a audiência principal foi adiada devido ao falecimento de Lindalva Leonor dos Santos, dona da chácara onde ocorreu o crime. Lindalva era uma testemunha-chave, mas sua contribuição foi registrada em depoimentos anteriores.
Em 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que Flávio Campana será levado a júri popular, decisão vista como uma vitória para a família da vítima e os movimentos em prol da justiça. Flávio Campana segue preso em uma penitenciária de Cruzeiro do Oeste.
Repercussão nacional e internacional
A morte de Maria Glória provocou uma onda de indignação em todo o Brasil. Manifestações contra o feminicídio e a violência de gênero foram realizadas em diversas cidades, como Maringá, Curitiba e São Paulo. Em Maringá, um dos atos mais expressivos reuniu milhares de pessoas na Praça Renato Celidônio. Amigos, familiares e ativistas se uniram para exigir justiça, segurando faixas e cartazes com mensagens de repúdio ao crime brutal.
Além das manifestações no Brasil, atos solidários foram realizados em outros países. A tragédia de Magó tornou-se um símbolo da luta contra a violência de gênero, trazendo à tona discussões sobre a segurança das mulheres e a importância de políticas públicas eficazes.
Legado e mobilização social
Em 2021, a Câmara Municipal de Mandaguari aprovou a “Lei Magó”, que institui o Dia Municipal de Luta e Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, celebrado em 25 de janeiro. A lei prevê ações educativas, campanhas de conscientização e eventos anuais para promover a igualdade de gênero e combater a violência. A aprovação da lei foi um marco para a cidade e um tributo ao legado de Maria Glória.
A família de Magó, devastada pela perda, encontrou forças para transformar o luto em ação. Seu pai, Maurício Borges, foi um dos principais porta-vozes da causa, participando de eventos e palestras para conscientizar a sociedade sobre o feminicídio. “Transformar a dor em luta é a única maneira de garantir que outras famílias não passem pelo que passamos”, afirmou em uma entrevista.
Infelizmente Maurício faleceu em 16 de agosto de 2022 após ficar três dias na Santa Casa de Maringá, depois de sofrer um grave acidente na PR-444, também em Mandaguari.