O destino do lixo

scala global, o destino do lixo é tema de amplo debate entre população e governtes. Com o crescimento populacional também aumentou a quantidade de resíduos, tanto sólidos quanto líquidos, tornando-se uma grande ameaça ambiental e social.
O lixo provoca a poluição do solo e da água, contribui para o efeito estufa com a liberação de gases e desencadeia a proliferação de insetos transmissores de várias doenças, por isso é fundamental a importância de uma maior conscientização da população sobre sua responsabilidade tanto na geração de resíduos quanto no descarte de maneira responsável.
Desde 12 de agosto de 2010, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que definiu os princípios, objetivos e instrumentos, bem como diretrizes, relativos ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos. Com objetivo de viabilizar esta responsabilidade compartilhada, entra o instrumento da logística reversa. O processo responsabiliza as empresas e estabelece uma integração de municípios na gestão do lixo. 

Lixo doméstico
O lixo doméstico em Mandaguari tem sua coleta feita de duas maneiras. O orgânico é de responsabilidade da Transresíduos, que está na cidade há 5 anos, enquanto os recicláveis são recolhidos pela Associação dos Catadores de Mandaguari (Acaman) há quase 12 anos. Tanto a empresa quanto a associação atendem a todos os bairros da cidade em dias alternados.
Segundo Marcos Rodrigues, encarregado da filial da Transresíduos em Mandaguari, a empresa recolhe 25 toneladas de lixo diariamente na cidade. Para ele, o número é condizente com a quantidade de habitantes no município. Por outro lado, Angélica Amanda Bento, gestora da Acaman, acredita que o montante de 4 toneladas mensais de recicláveis ainda é baixo. “Na separação de materiais recicláveis temos muito que melhorar. Entretanto, estamos à frente de muitos municípios”, comenta Marcos. “Na questão da separação em relação há alguns anos atrás melhorou, mas pode melhorar mais”, relata Angélica.

Conscientização 
Para a Acaman, o caminho para uma conscientização maior por parte da população em fazer a separação do lixo passa pelas crianças. A associação faz visitas às escolas, mas o efeito é maior quando os alunos visitam as instalações para realmente conhecerem a realidade. “É um trabalho que ainda não retomamos esse ano, mas em anos anteriores já recebemos a visitas das escolas, com até três turmas por período, onde mostramos como é feito o processo desde quando o caminhão chega até a separação”. A gestora vê as crianças como fortes aliadas na questão de cobrar os pais em casa a separarem o lixo.
Apesar de estar atuando há mais de uma década, Angélica relata que muitas vezes a associação ainda sofre com a falta de conhecimento das pessoas sobre o que é reciclável. Em diversas ocasiões, moradores procuram a Acaman para levar entulhos de construção e embalagens com sobras de tintas por exemplo. “Quando informamos que não pegamos esse tipo de material, as pessoas acham ruim, como se isso fosse uma obrigação. Algumas vezes nos finais de semana, as pessoas vêm e jogam os entulhos aqui na frente, mas tem a placa que informa que não pode jogar”. 
O descarte de lixo hospitalar ou caco de vidro vem causando muitos acidentes com os colaboradores da Transresíduos. Em 2018 foram registrados nove incidentes, sendo a grande maioria com agulhas de seringa que foram descartadas em meio ao lixo doméstico. “Lembrando que as consequências desses acidentes são enormes, pois os funcionários precisam fazer inúmeros exames, tomar medicação por um período prolongado e serem acompanhados também”, ressalta Rodrigues.
Só nos primeiros meses de 2019 foram registradas três ocorrências desta natureza. O descarte de seringas nunca deve ser feito junto ao lixo da residência e sim bem embalado em garrafas pets ou em caixas, que devem ser entregues nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou no Pronto Atendimento Municipal (PAM). 
Outro problema que vem se tornando constante é o de ataques de cães a catadores, resultando em mordidas dos animais. Ano passado foram quatro casos, e em 2019 houve ano duas ocorrências. “Os moradores tem colocado as sacolas de lixo nas grades do portão. Este é um problema, pois quando o coletor vai pegar as sacolas, o cachorro acaba mordendo os nossos coletores”, afirma Marcos.

Destinação
A Acaman consegue dar destinação adequada a mais de 90% do material recolhido pela associação, sendo que o lucro de toda a venda é rateado entre os 21 associados. Geralmente o destino é Jandaia do Sul ou Rolândia, para coletores que possuem licenças ambientais, onde todo o material é processado e vendido para empresas.
A destinação do lixo orgânico coletado diariamente em Mandaguari pela Transresíduos é o aterro municipal. “A nossa empresa tem contrato para coleta e transporte até o aterro, sendo que a destinação final é de responsabilidade do município”, finaliza Marcos Rodrigues.
Algumas empresas tem a preocupação em dar o destino correto aos resíduos gerados durante a sua produção entre as empresas da cidade. Com cerca de quase meia tonelada mensal de resto de papel, Célio Rodrigues da Tecnograf, resolveu há quase oito anos fazer a doação desse material para Acaman. “Quando começamos com a empresas vendíamos o material para algumas pessoas que reciclavam. Em determinado momento o valor baixo e a demora para retirar se tornou inviável, então resolvemos fazer a entrega para Acaman” conta.
Já a Romagnole vem buscando a redução contínua desses resíduos, segundo Rodrigo Romani Cavallini, gerente administrativo da empresa. “Estamos constantemente revisando nossos processos e aprimorando os produtos de modo a torná-los cada vez mais eficientes e eliminar todo e qualquer desperdício de matérias primas e recursos naturais. Essa política faz com que tenhamos um volume de resíduos muito baixo se considerarmos o porte da Romagnole e o tipo de atividade que ela desenvolve”. 
 

* Matéria publicada na 295ª edição do Jornal Agora