Capitulo 1: O globo da morte na propriedade rural

Do grupo de amigos, todos já tinham percebido que um boato quente, quentíssimo, estava circulando. Menos, João Juvêncio, sempre perdido em suas viagens dentro da própria cabeça

Um ti-ti-ti silencioso seduzindo ouvidos. Pelas esquinas, esticavam-se orelhas. Mãos em concha. Curiosidade geral. Preocupação. Medo de ficar desatualizado. De perder a corrida para o assunto. Ficar marginalizado dava um gosto ruim de queimado.

Bastava um grupinho, na escola, na rua, na praça, ficar mais conversadorzinho para a suspeita se levantar. Espiões eram designados a todo instante.  Era preciso descobrir quem estava à frente, nas investigações.

Lucy Eny se apressou. Chamou todos na responsabilidade. Vamos descobrir antes de todo mundo. É uma questão de honra. Atribuiu tarefas a cada um. Chegava a babar de tanta aflição.

Enquanto isso, pelas ruas, ninguém queria tocar a sério no assunto. Medo de queimar a língua. De estará xeretando a vida alheia. Inventando coisas. Curiosando onde não era chamado.

Galinzé, o maioral da turma, repetiu o costume de bater no peito e prometeu vou até o fundo do poço, mas descubro se é verdade.

Ninguém se lembrava, mas foi sem planejamento, sem mapa, sem planta, sem consistência, que o boato surgiu.  Pelas esquinas. Pelas ruas. Varandas. Bares. Sem definição, no início. Demorou muito para ganhar braços, pernas, cabeça.

Mesmo os fofoqueiros mais ousados diante de tão interessante assunto se calavam, no medo de queimar a língua. Todo mundo pisando em ovos. Será que é verdade? A vontade de acreditar. O pavor de estar enganado.

Sempre acontecia alguma coisa parecida na cidade. Alguém, por brincadeira ou inconscientemente lançava um diz-que-diz e aquilo ia se fortalecendo, recebendo novas informações, se encorpando. Transformava-se, afinal, em assunto da cidade. Causando intrigas, comemorações, suspenses.

E quando se descobria que era falso, a decepção era grande. E muitos que tinham acreditado e passado informação para a frente eram desprezados. Houve até um homem, o senhor Orélio dono do Bazar, que de vergonha por ter acreditado numa história sem pé nem cabeça, mudou-se de cidade. Deixando até de receber uns fiados da última colheita.

O arrepio correu forte na turma quando chegou o recado do Galinzé. Vamos nos encontrar na do lado direito da Fonte Luminosa, na quarta-feira, após as aulas.  Novidades quentes, todo mundo da turma pensou.

Era segunda-feira, ainda. E demorou muito para os dias, as horas, os minutos passarem. Mas, chegou. Ninguém viu quando os oito, meninos e meninas formaram uma rodinha no local combinado.  Nem quando Lucy Eny deu ordem: Não enrole tanto, Galinzé, bate logo com a língua nos dentes. Não temos todo o tempo do mundo.

Foi aí, assustado como se tivesse levando um soco nas costas que Galinzé informou: Estão comentando que existe um Globo da Morte, uma grande estrutura em madeira, em um sitio perto da cidade. Nele estão ocorrendo treinos de motocicleta, tão perigosos e emocionantes que até a televisão e o cinema estão tentando descobrir onde é.

Lucy Eny chegou engasgar de ansiedade. Convocou todos para uma reunião no outro dia para para planejarem como fariam para descobrir. E que todos tragam sugestões e informações, e bicos calados para sermos os primeiros a tirar tisso tudo em pratos limpos.