Notas da Semana – edição especial eleições 2024

Leitura

A reeleição da prefeita Ivonéia pode ter várias leituras. Num primeiro momento a impressão é de que a população aprova o trabalho que está sendo realizado e quer a continuidade.

Poucas mudanças

Pelas declarações feitas após a divulgação do resultado, é assim que a prefeita interpretou o resultado das urnas. Ela já adiantou que para o novo mandato não haverá grandes mudanças, nem na equipe e nem na forma como a administração está sendo conduzida. Ou seja, ao que tudo indica, a próxima gestão deve ser muito parecida com a atual.

Será?

Mas quando se analisa os números mais a fundo a constatação é outra. Ficou claro que os planos políticos da prefeita foram beneficiados pelo grande número de candidatos na disputa e ela só se reelegeu por conta da pulverização dos votos contrários. Ivonéia teve quase cinco mil votos a menos do que na eleição anterior. Ela teve o apoio de 33% dos eleitores, enquanto 67% mostraram que queriam mudanças no comando da cidade.

Desafios

Olhando por este ângulo, a mera continuidade do trabalho não vai agradar a população. Mandaguari tem muitos problemas que só serão resolvidos com uma mudança drástica na forma como são tratados.

Cileninho

Durante toda a campanha o candidato Cileninho conviveu com o fantasma dos processos que contestavam sua elegibilidade, algo que os adversários exploraram ao máximo. Na véspera da eleição chegaram a divulgar no boca-a-boca a informação falsa de que uma decisão judicial havia impugnado sua candidatura.

Prejudicado

Mesmo com todos esses problemas, Cileninho ainda conseguiu 29% dos votos. Se a Justiça Eleitoral tivesse dado uma solução definitiva para o caso antes do pleito, as chances de ele vencer a atual prefeita seriam muito grandes.

Murchou

Tido como um dos favoritos no começo da campanha, o ex-prefeito Romualdo Batista não teve o desempenho esperado nas urnas e ficou na terceira colocação. Um dos fatores que pesou contra sua candidatura foi o seu histórico partidário. Muitos eleitores afirmavam que mesmo ele tendo sido um bom prefeito, não lhe dariam o voto por conta da sua proximidade com o Partido dos Trabalhadores.

De fora

E falando em PT, pela primeira vez em mais de 15 anos o partido não estará presente na administração municipal de Mandaguari. A sigla ocupou cargos no primeiro mandato do ex-prefeito Cileninho e fez parte da coligação que o reelegeu em 2008. Em 2012, venceu a eleição com Batistão, fez parte da coligação que o reelegeu em 2016 e também integrou a coligação pela qual Ivonéia foi eleita em 2020.

Jorge

A candidatura do vice-prefeito Jorge do Alambique chegou a ganhar corpo no início da campanha e gerou preocupação nos adversários. Mas conforme o tempo foi passando, muitos apoiadores e eleitores acabaram migrando para outros candidatos, ou para “não perder o voto” ou para impedir que determinado candidato vencesse a eleição.

Celso

Já em relação a candidatura do ex-prefeito de Marialva, Celso Martini, não houve surpresa. Pouco conhecido na cidade, sem ter feito um trabalho de pré-campanha e sem uma chapa de candidatos a vereador para levar o seu nome até os eleitores de forma mais pulverizada, só conseguiu fazer pouco mais de mil votos.

Curiosidade

Nem mesmo a esposa de Celso votou nele. Em um vídeo no qual ele declarou apoio à candidata Katia Feltrin, a ex-primeira da Capital da Uva afirmou não ter transferido o título para Mandaguari e por isso votaria na candidata apoiada pela família em Marialva.

Marcia

Era nítido que a candidatura da ex-vereadora Marcia Serafini tinha pouquíssimas chances de prosperar. No entanto, seu desempenho nas urnas também ficou muito abaixo do que se esperava. Os 209 votos que recebeu seriam insuficientes até para sonhar com uma cadeira na Câmara Municipal.

Não procede

Porém, não procede a informação de que esta teria sido a menor votação de um candidato a prefeito de Mandaguari, nem em números absolutos e nem em percentual. No passado, quatro candidatos ao Executivo tiveram votações menores do que a dela.

Intolerância

Um fato lamentável envolvendo a candidatura de Marcia Serafini foram as demonstrações explícitas de intolerância religiosa que ocorreram durante a campanha. O candidato a vice em sua chapa, Renato Bossato, segue uma religião de matriz africana e não foram poucos os comentários preconceituosos e desrespeitosos por conta de sua prática religiosa.

Fim de um ciclo?

Ainda é cedo para afirmar, mas é possível que a reeleição da prefeita Ivonéia marque o encerramento de um ciclo e o início de uma renovação no cenário político local.

Recordando

Em 1992, a eleição ex-prefeito Xandú para o seu segundo mandato colocou um ponto final na carreira dos principais nomes que dominaram a política local nos anos 70 e 80. Antônio Galera, Odeval Sofia, Dr. Cyllêneo e o próprio Xandú, ou abandonaram as disputas ou nunca mais se mostraram competitivos como já haviam sido.

Renovou

A segunda eleição de Xandú, abriu espaço para o surgimento de novas lideranças. Desde então, Maria Inês Botelho, Ari Stroher, Cileninho, Batistão e Ivonéia foram os protagonistas das eleições. Uma situação parecida pode vir a ocorrer agora. Maria Inês já não tem muito envolvimento com a política. Ari Stroher continua ativo, porém atua mais nos bastidores.

Hipóteses

A votação recebida por Batistão mostra que ele terá muita dificuldade caso queira disputar a Prefeitura novamente. Cileninho conseguiu uma ótima votação considerando as circunstâncias, mas em 2028 estará completando 16 anos fora da Prefeitura e isso pode dificultar uma eventual disputa. Tudo vai depender de como será sua atuação política a partir de agora. Também pairam dúvidas sobre o futuro político de Jorge do Alambique. Depois de ocupar cargos na administração municipal em duas gestões, ser vereador por três mandatos e vice-prefeito por quatro anos, ele estará sem cargo público pela primeira vez em quase 25 anos e pode ter dificuldade para se manter em evidência.

Novidades

Por outro lado, alguns nomes começaram a despontar no cenário político e já existem aqueles que, antes mesmo da eleição, já anunciaram planos de concorrer à Prefeitura em 2028. Até lá, muita água vai rolar, mas é sempre bom ficar de olho para entender o que o futuro nos reserva.

Câmara

Em relação ao Legislativo, as eleições 2024 foram um ponto fora da curva. Nunca na história tivemos tantos vereadores reeleitos. Outro fato curioso é que dos cinco que permanecerão na Câmara, apenas um teve menos votos do que na eleição passada, os demais todos conseguiram aumentar a votação.

Oposição

E mais uma vez, a prefeita Ivonéia não conseguiu formar maioria no Legislativo. Dos nove vereadores que irão compor a próxima legislatura, apenas quatro são de partidos que a apoiam. Desde o início do mandato, sua relação com a Câmara não tem sido das melhores e este cenário tende a se repetir na próxima gestão.

Presidência

Ainda em meio à ressaca das comemorações, nos bastidores já começam as movimentações em relação a quem será o novo presidente da Câmara. No início da atual gestão, por falta de habilidade política, a situação perdeu a oportunidade de assumir o comando da Casa. Agora novamente a oposição é maioria e fica a expectativa de como o grupo da prefeita vai administrar isso.

Recorde

Com 1.033 votos, o vereador Danilo chegou perto, mas ainda não foi desta vez que se quebrou o recorde de votos para vereador em Mandaguari que se mantém há 56 anos. Em 1968, o advogado Jurandir Seyr foi eleito com 1.118 votos, número jamais alcançado por nenhum outro candidato. Quem mais chegou perto foi Ivonéia, que em 2004, teve 1.113 votos.

Proporção

O detalhe é que quando Jurandir Seyr teve essa votação expressiva, Mandaguari tinha apenas 9.283 eleitores, dos quais 12,05% votaram nele. Mais cedo ou mais tarde essa votação numérica será superada, mas proporcionalmente é quase impossível outro candidato a vereador alcançar um percentual tão alto.

Sumiu

Um detalhe observado nestas eleições foi a ausência do Observatório Social de Mandaguari. Em eleições passadas a entidade se mobilizava, fazendo com que os candidatos assinassem termos se comprometendo que, caso eleitos, seguiriam os princípios da honestidade e transparência. Em 2020, por exemplo, chegaram a expor nas redes sociais o nome de quem não havia assinado o documento. Este ano não se tem notícias de nenhuma ação da entidade relacionada ao pleito.

Silêncio

Aliás, nos últimos anos o observatório tem aparecido muito pouco. Na atual gestão, a entidade veio a público apenas duas vezes questionar ações do poder público. A primeira foi para contestar o orçamento anual da Câmara e a segunda para impedir a aprovação de um projeto para concessão de título de cidadania honorária.

Credibilidade

E com esta edição especial do jornal impresso, a Agora Comunicação encerra a cobertura de mais um processo eleitoral em Mandaguari. Com uma atuação imparcial, sem misturar jornalismo com campanha para exaltar ou atacar este ou aquele candidato, concedendo espaço para todos os grupos e atuando com base nos princípios éticos que deveriam ser seguidos por toda a imprensa, a equipe realizou um trabalho digno de elogios, que evidencia a seriedade e a credibilidade do grupo.

Dá voltas

Uma prova desta credibilidade é que até quem há dois anos propagava nas redes sociais que a Agora Comunicação deveria ser boicotada porque seu diretor teria votado em determinado candidato a presidente, este ano usou os microfones da emissora para pedir voto aos eleitores. Como diz o ditado: “a terra plana não gira, capota”.