Encontro em Mandaguari reuniu produtores e apreciadores de cervejas artesanais

Por Semiótika Comunicação
Especial para o Jornal Agora
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Animação, boa comida, música, muita conversa e troca de experiências sobre a bebida que motivou a realização do evento: cervejas artesanais. Esse foi o tom do “3º Encontro de Cervejeiros de Mandaguari e Região” realizado no último dia 28. A confraternização reuniu mais de 30 pessoas, entre produtores caseiros de cerveja de Mandaguari, Marialva e Maringá, e convidados que são apreciadores da bebida.

Nos copos, cerca de dez estilos diferentes de cervejas fabricadas pelos participantes. A cada garrafa aberta ou barril engatado nas chopeiras, observavam-se cenas que se repetem exaustivamente em eventos dessa natureza: por todos os lados pessoas com os copos cheios conversando sobre a coloração, aroma, formação de espuma e sabor apresentados pela cerveja da vez. Em seguida, troca de informações para melhorar, algum aspecto, corrigir uma falha ou atingir algum outro resultado na próxima leva que será produzida.

Um dos participantes do encontro foi o engenheiro agrônomo Arthur de Canini Cezar, de 34 anos e que há cerca de dez produz cerveja caseira. Ele foi um dos precursores da “cena cervejeira” mandaguariense e conta que conheceu as cervejas especiais por meio de amigos e do cunhado que já apreciavam esses estilos. “A partir daí comecei a me aprofundar no mundo cervejeiro. Na época conheci pessoas atuantes na cena cervejeira de Maringá e da região que me incentivaram e auxiliaram a iniciar produção própria”, lembra.

Arthur, à esquerda, e o cervejeiro Matheus Mello, que foi um dos organizadores do evento

Arthur fez as primeiras brasagens, que é o nome dado uma das etapas do processo de fabricação da cerveja, com os irmãos e alguns primos com os quais se juntou para montar os equipamentos básicos. Entre os desafios enfrentados estavam a dificuldade de acesso aos insumos e informações a respeito do assunto. A situação que para quem inicia hoje neste universo já é bem diferente. Além de haverem lojas físicas na região, existem muitos sites que vendem as matérias primas usadas na fabricação da cerveja. Além disso, na internet há uma oferta enorme de conteúdos especializados. Soma-se a isso o fato de que a arte de fazer cerveja vem ganhando cada vez mais adeptos na região, possibilitando facilmente o contato com cervejeiros profissionais e amadores muito experientes e até mesmo premiados em concursos promovidos por associações regionais, estaduais e nacionais.

Desde que ingressou no mundo cervejeiro, Arthur já fez uma peregrinação com seus equipamentos. Começou fazendo a cerveja num espaço em uma empresa da família, depois passou para a casa de sua mãe e hoje pratica o hobby em sua própria casa, no sítio em que mora e onde reservou um espaço próprio para a atividade. “Uso a água da nascente, a cervejaria fica dentro da minha casa e temos equipamentos automatizados, que garantem um processo bem mais padronizado”, explica.

Assim como os equipamentos, o conhecimento do agrônomo sobre o assunto também evoluiu. “Nesses mais de 10 anos pude participar de cursos e eventos, além de trocar muitas experiências com participantes do movimento cervejeiro, que é muito forte em Maringá e região. Com certeza o conhecimento aumentou muito com todas essas oportunidades”, afirma.

O desenvolvedor de sistemas de T.I., João Francisco Perassoli Lopes, foi um dos cervejeiros mais jovens (em todos os sentidos) a participar do evento no dia 28. Com apenas 20 anos, ele começou a produzir cerveja há poucos meses e levou exemplares da sua segunda produção para os colegas provarem.

João, à esquerda, com amigo e parceiro de brasagem, Cesar, durante a produção de uma das cerveja que foram degustadas no evento

Embora já consumisse as cervejas especiais há algum tempo, a iniciativa de fazer a própria bebida veio depois que provou uma cerveja feita pelo pai de um amigo. “Percebi que era diferente, muito boa, e ele me disse era produção própria. Na hora já quis saber mais sobre esse processo e vi que não era um bicho de sete cabeças, que era algo possível de fazer. Está sendo uma experiência muito interessante. Cerveja é muito mais do que ir ao mercado, escolher uma marca e levar para casa pra tomar. Há toda uma cultura envolvida, muita técnica e isso anima a gente a estudar e aprender cada vez mais”, ressalta.

João conta que se surpreendeu com a quantidade de cervejeiros participando do evento e confessa que não imaginava haver tantas pessoas se dedicando a este hobby em Mandaguari e cidades próximas. “Foi meu primeiro contato com vários cervejeiros e eu gostei muito de conhecer as pessoas e compartilhar experiências. Espero que haja outros encontros como esse porque foi muito interessante mesmo”.

Associação regional reúne mais de cem cervejeiros

O grupo “oficial” dos cervejeiros mandaguarienses e de cidades vizinhas tem pouco mais de 30 participantes, dos quais cerca de 20 fabricam ou já fabricaram a própria cerveja. Os demais são amigos e apreciadores da bebida. O número, no entanto, representa uma parcela muito pequena dos cervejeiros caseiros em atividade, tanto aqui, quanto na região. Só uma associação maringaense, a Concerva, que agrega cervejeiros de diversas cidades do Noroeste paranaense, entre elas Mandaguari, tem mais de cem filiados ativos, mas existem centenas de não associados que também são muito atuantes na cena cervejeira regional.

Um caminho sem volta

Quem aprecia e começa a conhecer o mundo das cervejas especiais quase sempre entra em um caminho sem volta. São centenas de estilos que podem ter inúmeras variações a depender dos insumos e da forma como o processo de fabricação é conduzido pelo cervejeiro. É cada vez mais comum encontrar cervejas que levam ingredientes inusitados como frutas cítricas, especiarias, aveia, centeio, cacau e café, por exemplo. Neste leque de possibilidades, o céu é o limite para a criatividade, fazendo com que o universo cervejeiro proporcione incontáveis combinações de cores, aromas e sabores. Dessa forma, quem produz sempre pode tentar algo novo em suas receitas e quem consome sempre tem novidades para experimentar.

Reportagem publicada na 394ª edição do Jornal Agora