O adeus do poeta
A Tempestade ou o Livro dos Dias completa 25 anos de lançamento
Lançado em setembro de 1996, 21 dias antes da morte de Renato Russo, a Tempestade ou o Livro dos dias, chegou às lojas de disco de todo o país cercado a muito mistério. A banda não chegou a fazer nenhuma coletiva de imprensa para apresentar o álbum.
As notícias na época eram que o vocalista e principal compositor Renato Russo, estaria passando por mais uma crise de depressão por conta do seu vício em álcool e drogas.
Para a divulgação nas rádios a música escolhida foi a Via Láctea, composição que dava o tom de despedida de Russo, o clima de adeus é presente em praticamente todas as faixas dos discos. Renato Russo sabia que esse seria seu último trabalho à frente da Legião Urbana.
O compositor ao contrário do amigo Cazuza nunca falou publicamente que era portador do vírus HIV, dentre as pessoas que trabalharam com Renato nos últimos anos apenas os companheiros de banda, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, tinham conhecimento que o cantor estava doente.
O último disco lançado pela banda até então era o Descobrimento do Brasil em 1993 e nesse intervalo Renato Russo lançou dois trabalhos solos que traziam regravações, The Stonewall Celebration Concert de 1994 em inglês e Equilíbrio Distante de 1995 com canções em italiano.
Ao contrário do disco em inglês que teve poucas execuções nas rádios, Equilíbrio Distante vendeu bem, apesar dos fãs no início estranharem ao escutar Renato cantando em um idioma que até então ele nunca ter demonstrado ter alguma proximidade.
Para Renato foi bom se manter ocupado durante esse hiato da Legião Urbana, o trabalho o manteve longe dos vícios, porém, quando a banda se reuniu em janeiro de 1996 para começar os trabalhos para a gravação do disco da Legião, os companheiros de longa data se espantaram com a aparência de Renato Russo, abatido e muito magro.
Para a gravação da Tempestade foi escolhido o estúdio AR que fica no Rio de Janeiro. Renato teria ficado irritado por não terem locado exclusivamente para banda, que teve que dividir com outros artistas. O que teria levado o líder da Legião Urbana a “abandonar” o trabalho em estúdio e acompanhar o que era feito pelos companheiros da sua casa.
Essa decisão deixou o ambiente mais pesado e causou muitos atrasos na gravação, para isso os dois companheiros de banda e o tecladista Carlos Trilha trabalhavam no estúdio e no final do dia enviava os takes para que Renato ouvisse e desse o seu feedback e aprovação. Só que o retorno nunca era positivo, Renato sempre apontava erros o que teria levado Dado Villa-Lobos, que era o produtor a quase abandonar a produção do disco, Renato Russo segundo Mayrton Bahia que foi produtor de todo os discos anteriores da Legião, que trabalhar com o compositor sempre foi assim e que Dado deveria seguir trabalhando.
Para os fãs da Legião Urbana, que acompanharam o lançamento e depois de alguns dias serem pegos pela morte de Renato Russo no dia 11 de outubro, o disco pode ter um ar melancólico e uma audição dolorosa. Mais é um disco que vendeu muito bem, mais de 1 milhão de cópias, claro impulsionado pela morte do cantor.
Os versos finais de O livro dos dias, “Não esconda tristeza de mim / Todos se afastam quando o mundo está errado / Quando o que temos é um catálogo de erros / Quando precisamos de carinho / Força e cuidado / Este é o livro das flores / Este é o livro do destino / Este é o livro de nossos dias / Este é o dia dos nossos amores”, música que fecha o álbum, é o encerramento da carreira daquele é considerado o melhor letrista do rock brasileiro. Morrer foi uma escolha de Renato Russo, que abandonou o tratamento da Aids por conta dos seus efeitos colaterais, A Tempestade ou O Livro dos Dias é um disco de adeus.